Receita antiga tradicionalmente associada a Caminha e a Vila Nova de Cerveira, mas também confecionada em Ponte de Lima.
Receita de transmissão geracional. Aprendeu-a com a mãe. Conta que quando o irmão fazia a pesca da lampreia, a matriarca confecionava o saboroso prato. Todos se reuniam à mesa como se fosse dia de Natal. O arroz reproduzido por Maria Clementina – a avó Tina - é conhecido em toda a freguesia e amplamente elogiado. A receita foi partilhada pela própria e pela neta, Liliana Fiúza. Por se tratar de um prato forte e pesado, não deverá ser saboreado à noite.
Receita de tradição familiar. Aprendeu-a com a sogra na antiga tasca “Sarameleiro”, situada à ilharga do Senhor do Pessegueiro, onde hoje se encontra a Caixa de Crédito Agrícola. O negócio familiar, gerido por Américo de Lurdes e pela esposa Lúcia Capitolina, distinguia-se pela variedade de petiscos e de pratos tradicionais. A casa estava sempre cheia, especialmente nos dias da feira de Ponte. O emblemático espaço de degustação e convívio fecharia as portas na década de 90 do século XX.
Refeição associada às tradições fúnebres da freguesia. Servia-se habitualmente no almoço que procedia o enterro. O prato era confecionado em potes de ferro por algumas mulheres na cozinha da casa contígua à do(a) falecido(a), cedida para o efeito. As senhoras que ajudavam na preparação do corpo não podiam participar na confeção da comida. CONTEXTUALIZAÇÃO A solidariedade entre as gentes da terra sentia-se nos tempos de trabalho, nos momentos de lazer, mas, sobretudo, nas ocasiões de perda. O luto na Boalhosa fazia-se em comunidade. Quando alguém falecia, o vizinho cedia a cozinha para que algumas mulheres da freguesia pudessem preparar alimentos para conforto daqueles que velavam o corpo noite dentro. Coziam pão em quantidade suficiente – o bolo de porta aberta - que serviam acompanhado de bagaço e de vinho do Porto. Já de madrugada, voltavam à casa para distribuir bolachas e café. No dia seguinte, após o funeral, confecionavam o almoço que se compunha de bacalhau cozido com batatas e arroz malandrinho. As mulheres que ajudavam a preparar o corpo para o enterro estavam impedidas, por superstição, de entrar na cozinha. Por seu turno, na missa de sétimo dia era costume distribuir-se dinheiro ou milho pelas pessoas mais carenciadas pela alma dos defuntos.
Receita típica associada aos trabalhos agrícolas. A merenda de tradição remota é ainda hoje reproduzida no cortejo etnográfico das Feiras Novas – a romaria mais emblemática do concelho de Ponte de Lima. As gentes da freguesia fritam o bacalhau em suas casas e cozem a broa à moda antiga. Nas vindimas, reserva-se um pipo com o bom vinho verde da região para integrar o cenário do carro alegórico.