Quando falamos de cozinha de território, dos produtos endógenos e autóctones, não podemos esquecer da subtil, mas eficaz cumplicidade entre a eira e o palácio, entre o texto e a oralidade, entre a cozinha simples e frugal e a complexa e luxuosa. Procurar uma receita numa família camponesa, transmitida oralmente de mães para filhas, de avós para netas, ou ter acesso a um receituário, escrito com mais ou menos primor e afeição, relaciona a terra e a memória, os sabores e uma geografia de afetos.
O património gastronómico limarense é uma celebração do território, da paisagem e das gentes desta terra.
A profunda ligação à terra e, apesar de tudo, muito para além da referida ‘distinção social’ e hierarquias conhecidas, a constante relação entre as classes presentes na nossa paisagem agrária, permitiram, não só na gastronomia, mas também nas danças e nos cantares, no traje, etc., fazer prevalecer e valorizar a gastronomia tradicional. É este receituário, conservado em arquivos familiares e nas casas das mais simples famílias, que possibilita uma fidelidade à autenticidade linguística do nome dos pratos tradicionais portugueses e limarenses. Por esta razão, incluímos as ementas de casas senhoriais na pesquisa, esperançosos de que, no futuro, novas informações venham enriquecer o conhecimento do nosso património gastronómico.
Álvaro Campelo